terça-feira, 6 de abril de 2010

(2010/004) Reagindo à primeira reação do Osvaldo em (2010/003)

1. Como prometido, vou estabelecer nesse post, a ligação que fiz entre o que disse no 2010/006 e o assunto desse blog. Bem como reagir à primeira reação do Osvaldo em 2010/003.

2. Explico.
É precisamente por me ocupar de temas como os citados em minha trajetória profissional, acadêmica e de vida que o blog nasce com essa “cara”, com esse “jeitão”.

3. Comecei minha trajetória, em pré-vestibulares, mirando a especialidade médica, medicina. Encantava-me (e ainda encanta) uma ciência, por meio da qual, é possível observar as patologias, fisiologias e dinâmicas de um organismo vivo, enquanto vivo ou morto, nesse caso, a medicina forense. Reconstruir uma causa mortis a partir de uma pequena partícula que fora investigada no cadáver, ou ainda, perceber processos patológicos que geravam um sinal em uma parte específica de todo organismo vivo e descobrir a dinâmica de sua ação, por meio de presença de um pequeno sinal. Fiz o vestibular, três vezes. Na terceira vez, cansado, fiz também para Teologia – menino sonhador, sabe? – escolhi a Teologia. Lá fui eu, com planos de mudar o mundo...
Logo no primeiro período de faculdade fui matriculado na disciplina “Ciências da Bíblia”. O professor? Bem, vocês o conhecem desse blog mesmo. Quatro horas, toda sexta, de pura experiência acadêmica, crítica, científica. Tomei gosto pela coisa. Quando crescesse, queria ser EXEGETA. Palavra bonita. Era legal minha mãe falar que eu estava estudando para ser “exegeta”...
Bom, antes que o querido leitor se enfadonhe com uma rasa biografia, sigo adiante rumo ao assunto principal.

4. Aquele meu primeiro período na Colina fora decisivo. Tal qual uma pedra arremessada na superfície de um lago, as ondas de paixão pela ciência me levaram à faculdade de Letras, português-grego, ufrj. Ali aprendi estruturalismo, lingüística, aquisição de linguagem, mas fundamentalmente, percebi a estreita ligação entre o desenvolvimento de teorias lingüísticas e a imediata aplicação delas à realidade científica. Onde era texto, agora é sociedade. Onde era retórica, dissertação literária na teoria literária, nas ciências sociais e humanas se transformavam em teorias, métodos, etc. Ao chegar a esse ponto e ao ler Nietsche – “todo bom teólogo é mau filólogo”, pulei fora de Letras, sorte a minha coincidir com meu ingresso no mestrado da PUC-Rio em Teologia Bíblica, pois como as aulas na Letras só aconteciam de manhã e na PUC também, dei preferência ao meu mestrado. A conseqüência de todo esse imbróglio foi minha transferência de curso de Letras para História, na mesma ufrj, assim não “perderia” metade de uma graduação...

5. Começando a faculdade de História, no primeiro período, de novo, conheci André Chevitarese. Ou eu preciso fazer primeiros períodos mais vezes ou foi pura coincidência... Foi ali, precisamente ali, que me engajei nos estudos sobre religião e cristianismo antigo de um ponto de vista laico, mais científico e menos confessional, orgânico. De imediato, ao conhecer Chevitarese, comecei a pesquisar a magia no cristianismo antigo. O ponto de partida foi um indício, um rastro, uma pegada que o autor – Paulo – deixou em Gálatas 3,1. A partir dali comecei, de fato a perceber que há vida fora das igrejas...

6. Todas as descrições que fiz em 2010/006 e as que aqui elenquei acima, são os antecedentes de um encontro que me situou na academia: o estudo da história por meio de indícios, sinais. Muito embora não goste das classificações e rótulos teóricos estabelecidos no meio científico, é (quase) possível minha inserção na micro-história – sobre isso, basta ler o post 2010/002. O meu gosto pelos pormenores mais negligenciáveis, ou seja, o oposto de badalações dos “grandes feitos” ou classificações generalizantes me ocuparam a mente desde sempre. E foi precisamente em Gizburg que encontrei o caminho para assim proceder cientificamente. A natureza desse trabalho já enunciei em 2010/002.
7. Há ainda, não só em Ginzburg, outro caminho que me encantou. O das interações culturais. Servindo-me de Marshal Sahlins e Cliford Geertz passei a estudar as conseqüências e resultados advindos de um encontro entre duas culturas diferentes. Fruto da “virada antropológica” da história e de um marxismo mais aprofundado e historicamente materialista, avesso à sequidão retórica pós-moderna, os historiadores dos Annales conferiram outra dimensão aos fatos históricos, mas esse debate fica para outro post.

8. Ainda, devo acrescentar, que interações culturais, encontro entre culturas diferentes, se dá, ou pelo menos nos é possível arrazoar sobre, por meio de vestígios, de documentação que a nós se apresentam e precisam ser entendidas à luz de seu contexto primevo. Nesse sentido, sim, a exegese completa a história e vice-versa, Osvaldo. Acredito que aqui, precisamente depois desse meu parágrafo, cabe a leitura do ponto cinco de 2010/003 do Osvaldo. O que, não por acaso, nos faz co-irmãos nesse blog.

DANIEL BRASIL JUSTI

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